Notícias sobre experiências de violência

“Em Portugal, suicidam-se três pessoas por dia”. Título de uma reportagem do Diário de Notícias de hoje que me fez interromper as férias para aqui vir. Tive que me sentar não só para escrever estas palavras, mas também pelo abalo. “Os números são tão violentos quanto a dor”, ganhando maior noção do verdadeiro problema de saúde pública ao saber que, a nível mundial, há um suicídio a cada quarenta segundos. Sim, saúde pública, porque os suicídios ou tentativas acabam por ter um impacto aterrador nas famílias, comunidades e, por extensão, nas redes institucionais (quer sejam locais de trabalho destas pessoas, quer sejam organismos que prestem qualquer tipo de apoio). Um suicídio é uma avalanche de destruição para uma comunidade, quanto mais três por dia em Portugal ou a cada quarenta segundos no Mundo… Sociedades destruídas.

E quais os motivos? A notícia aponta vários, identificados pela Ordem dos Psicólogos que, a propósito do Dia Mundial da Prevenção do Suicídio, lança um documento orientador. Ao lê-los, esta pergunta não mais me largou: quantos não estarão associados a violência laboral? Há dias ouvi a extraordinária conversa do “Fala com Ela” entre a Inês Meneses e o jornalista Nelson Marques e fez-se luz. É comum estarmos em piloto automático; as coisas mais evidentes não são percepcionadas, até que basta alguém dizer e ganha-se consciência: a vida profissional passou a ter uma importância central nas nossas vidas. Dizer que se é workaholic nem é mal visto, apesar da compulsão associada à terminologia. Desde pequenos que nos perguntam o que queremos ser quando formos grandes. Passamos a nossa infância e juventude a ser formatados para cumprir essa função laboral, cada vez com mais exigências, mais responsabilidades, mais sonhos. Chegados à idade do trabalho, é nele que gastamos grande parte da nossa energia, é ele que nos consome a maior parte do dia. Olhando para motivos identificados como: acontecimentos traumáticos, abusos, bullying, discriminação, sentimentos de se estar só, entre outros; se tudo isto for sentido no local onde passamos a maior parte do tempo, sentido a cada hora, a cada minuto, segundo, como ignorar a violência laboral como um crime contra a saúde pública? Como não perceber que estes motivos que são precursores de possível depressão poderão ser desastrosos para um conjunto muito alargado de pessoas, não só à vítima? Queremos continuar a ignorar a importância dos locais de trabalho para o bem estar do indivíduo e o bem-estar geral? Queremos continuar a ignorar os efeitos desastrosos na saúde mental e física das pessoas? Queremos continuar a ignorar o impacto negativo nos sistemas de saúde e na economia no global? Queremos continuar a ignorar e a virar a cara para a lado, como se não fosse nada connosco? Não poderá acontecer a qualquer um? E se fosse consigo? E se fosse com algum familiar seu ou um amigo?

A violência laboral levou-me a um lugar muito assustador e pesado, com impacto mental, através da depressão, e físico, através da síndrome do intestino irritável, com uma perda de peso muito perigosa. Felizmente, tive uma rede de apoio e consegui pedir ajuda a seu tempo. Sem vergonhas. Pelo contrário. Nem todos o fazem, achando que terão controlo sobre a depressão. Atenção, a mente mente-nos. Ao não pedir ajuda, estarão a deixar-se cair no engano, estarão a ser controlados que nem fantoches por uma doença que se aloja e tenta ocupar cada espaço do seu ser. Um cérebro dilacerado pela depressão precisa de cuidados urgentes. Não o fazendo, poderá chegar-se ao patamar último das catacumbas do suicídio. Um homicídio de si próprio. Por desespero. Mas não terá que ser assim. Há sempre alguém.

Que se fale cada vez mais. Que se traga à conversa o impacto dos ambientes de trabalho na saúde na sua globalidade. Falar pode salvar Vidas!

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Foto: iStock

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