Violência

As palavras têm força. Muita. Mesmo não sendo religiosa, retorno a um dos livros mais lidos de sempre e que promove grandes clubes de leitura aos Domingos de manhã: “No princípio era o Verbo…” 

Ontem estava a falar ao telefone com uma pessoa e apercebi-me da diversidade terminológica referente ao que vivemos e da confusão que daí se gera: há quem seja fiel ao conceito mais estudado internacionalmente mobbing, há quem se refira a bullying no trabalho, ultimamente temos ouvido falar mais no assédio moral e sexual. Fiquei a reflectir sobre a importância de dar nome concreto às coisas para que se desfaçam tabus, para que não surjam temas desviantes (que terão também o seu espaço, não é isso que ponho em causa), para que alguns não se aproveitem de uma “bandeira” só porque está na ordem do dia. E, sobretudo, para que haja respeito, o oposto que senti ao ouvir as declarações de um elemento do executivo da Câmara Municipal de Almada. Muito infeliz ao apontar o dedo a quem estava a alertar para a violência. A violência pode ser física e/ou psicológica, portanto, só entendo estas declarações como sendo de alguém que associa a violência doméstica apenas à violência física. Ora, isso nem sempre acontece. Muitas mulheres sofrem abusos verbais constantes, tortura psicológica diária ao ponto de ficarem destruídas emocionalmente. Essa é a estratégia do agressor que gosta da vítima dependente, sem voz, passiva. Esta pessoa ficará de tal maneira sem auto-estima e confiança que pouco fará para agir. E o agressor fica com o poder na mão. Precisamente por ser uma violência que ocorre no lar, é que se chama doméstica, certo? Então porque diz que o mesmo, acontecendo em contexto laboral, não se compara? Já sentiu na pele os olhares de desconfiança, os passos controlados, os jogos de ataque subliminares, o ser-se ignorado constantemente na apresentação de ideias e soluções, a marginalização, a difamação, o isolamento…? E tanto havia mais para referir. Sem conhecimento de causa, de terreno ou na pele, perdemos legitimidade, portanto cabe-nos dar o benefício da dúvida, pois nem sempre aquilo que parece é. Os papéis de vítimas e agressores muitas vezes são manipulados, numa tentativa de mudança de cenário e vitimização pelo próprio agressor. É um processo muito insidioso e conseguir provas nem sempre é fácil, sobretudo em serviços que não têm uma política rigorosa de circuitos de gestão da informação. Quando as coisas ficam pelas palavras, contadas, pode-se acrescentar um ponto…

Definitivamente quero falar e dar nome às coisas e escolho a expressão violência laboral, porque, independentemente da sua forma, violência é violência e a vítima tem que ser sempre protegida e afastada do(s) agressor(es).



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