5as de cura... pela palavra | Alexandra Marques


"No princípio era o Verbo..." (João, 1) a espalhar a luz pela escuridão, diz a Bíblia, provavelmente a obra mais lida do Mundo. Numa outra leitura menos sagrada para muitos, mas não para tantos, em “Ficções que curam: psicoterapia e imaginação em Freud, Jung e Adler”, James Hillman aborda igualmente o poder da palavra.

Depois de muito reflectir na ideia lançada por um amigo em jeito de convite abanão, é esse resgate que busco quando decidi expôr, sem tabus, as minhas experiências de violência. Pensei em escrever "sem medos", mas isso não seria a verdade. Quem não tem medo de se expôr, de se mostrar frágil para o Mundo, numa espécie de desnudar perante um outro feito de julgamentos e apontar de dedo? Porém, enfrentar medos é um desafio e gosto disso. Talvez por isso goste tanto de gatos. Bem, também gosto dos cães "e todos os bichos do mato"... (lá estou eu "a chamar a música". Foco.) Retomando, há desafios e desafios e este sairá das entranhas... literalmente, com tanto problema gastrointestinal causado pelo stress e trauma ao ponto de poder dizer que sinto o peso da idade: 42, os anos e os kg que tenho actualmente.

Fui vítima de assédio moral e ainda hoje sofro por causa disso.

Assédio.

Atenção, bem diferente de outra coisa que é abuso, confusão que tenho visto ultimamente a propósito das vozes de figuras públicas que surgiram a denunciar o assédio sexual. Um, repito, um beijo forçado não é assédio, é abuso sexual. Assédio implica algo que é persistente, prolongado no tempo. E sinto-me com autoridade para fazer esta diferenciação porque já senti na pele a tentativa de violência de cariz sexual única, o abuso, e a violência de âmbito do terrorismo psicológico persistente, o assédio moral, diário, durante 3 anos. Serão estas minhas memórias que partilharei em resgate da minha auto-estima e poder. Uma forma de me organizar, reestruturar (tinha mesmo que ir parar ao mundo da Gestão da Informação e do Conhecimento!!!).

Na verdade, apesar de tudo, quero começar este meu espaço às 5as (outras vozes virão noutros dias) de forma positiva: escrevo estas palavras no sofá que me acolheu nos momentos de profunda escuridão. Poucas forças restavam apenas para cumprir com o mais básico e, durante alguns dias, simplesmente respirei, cumpri com outras funções como comer e dormir. Nos dias menos maus, tinha forças para fazer algo que me dava algum conforto e paz: a prática meditativa de acender uma vela e ficar a olhar para a chama. Sempre trémula, umas vezes mais do que outras, umas mais fraca, outras mais intensa, chama composta por luz, mas também escuridão, sempre numa dança-luta constante. Mais um desafio. Pouco a pouco, fui renascendo, a dança da luz foi ganhando espaço à luta da escuridão. Não tenho a pretensão de tirar a luta a tudo isto da Vida, caso contrário, estaria a apagar a chama. Aceito que faz parte, o desafio é manter o equilíbrio. E dançar. E lutar. Assim renascemos das cinzas, mais fortes, com mais chama. Dizem que é como a Fénix, não é?

Força e Saúde!

Alexandra Marques


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